sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Um fado mal contado

Ele vivia num mundo à parte, noutra realidade, noutra dimensão. Era um louco, feliz, gingão, fala-barato, tagarela, chato, sem papas na língua, de pensamentos bizarros, ideias anormais e paranormais, dançava na rua, vivia na lua, muito senhor do seu umbigo, sempre de ar leviano e nada contido. Mas tudo o que é bom, não dura para sempre, e a sua vida deu meia volta, caiu no chão, bateu com a cabeça, foi esfaqueado nas costas, gritou de dor, riu-se de horror, fugiu com pavor e durante algum tempo, viveu sem esplendor. Surgiu escondido na forma de um sorriso, que sempre lhe passara despercebido. Suavemente e devagar, pela calada, insinuando-se primeiro, inchando-se depois, todo arrogante, pimpão e presunçoso. Era amor. Era ilusão. Enfeitiçante como a lua cheia mas tão terrível como um exército pronto para a mais sangrenta das batalhas. Os dias tornaram-se semanas, as semanas meses. A batida era forte e insuportável. O sofrimento era desgastante. E o sorriso, traiçoeiro mas acolhedor. No início, não percebeu. Não compreendeu. Era algo novo, estranho. Mas as passadas longas do tempo despertaram-no. O que para ele foi uma pena. Pensou, que fazer? Estava confuso. Pensou outra vez. Tinha a cabeça mil à hora. Mas finalmente parou. Olhou e aproximou-se, sorrateiramente. Como se um cavaleiro disfarçado. O amor entrou pela porta da frente e a sensatez abalou pela porta traseira. Calma mas irrequietamente, algum tempo demorou. Chegada altura, exibiu-se e não vacilou. Mas não conquistou. E da ilusão acordou. Contou e recontou a si mesmo que nada daria errado, que seria esse o seu fado, os dois felizes, lado a lado. Só não tinha era percebido, que não passava nada mais de que um fado mal contado. Ficou calado. Muito contido, deprimido, pelas trevas apoderado, tresmalhado do pensamento, demasiado baralhado. Chorou, chorou, tentou-se apagar mas deu um tiro ao lado. Ficou acamado, durante demasiado tempo para sequer ser mencionado. No fundo, quem sabe o que pode ter murmurado, a si mesmo e à escuridão, nas amargas vigílias nocturnas, quando de repente viu todo o significado da vida a desaparecer como que num sopro, a sua própria razão de existência a perder o sentido, o acto de respirar a tornar-se inútil. Tudo encolhia, tudo perecia, e sem dar por isso, as paredes do seu quarto começaram a fechar-se sobre si, como uma arca encerando uma fera adormecida. Tudo se tornou sombra, tudo perdeu vida. Acender a luz? Qual luz? Essa há muito que estava apagada. Mas por muito que tenha custado, e que muitas primaveras tenham passado, lá se apercebeu de que se torturava por nada. Foi despertado da sua amargura e aposentadoria por alguém ainda mais excêntrico que ele. Ela surgiu como a aurora, com uma boa nova. Radiante como os diferentes raios solares, suave, sorridente, calorosa, de olhos escuros como o breu, hipnotizantes, intoxicantes e apaixonantes. Veio galante, trazendo o cheiro de chocolate e o talento de tocar saxofone. De falas e gestos gentis, pura de interior e emanando felicidade, lá trouxe o rapaz, de volta à realidade. Demorou um pouco mas a paixão lá chegou. Agora vinha verdadeira, com novo ar e melhor dom. Viu-se a luz renascida, um novo sonho, uma melhor vida. Há gargalhadas no ar, o sol a vibrar, há novo sorriso, com gritos de cor. Vai-te embora desgraça, dá lugar ao amor.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O Estrangeiro faz-se sedutor

Todos os dias cresce a vontade de fuga.

A vontade de fuga da cidade, do país, do mundo e por ventura, talvez, do universo.
Esta sociedade deprimente foi criticada e assobiada ao longo dos tempos, em poésia rude ou gentil, em prosa áspera e crua, em falas mansas e sofisticadas. De que vale mais uma?
A vontade.

Das pessoas, tudo é irritante. Os seus jeitos, as suas conversas, os seus hábitos, ou seus maldizeres, as suas insignificâncias, as suas manias de grandeza, as suas pseudo-intelectualidades, as suas hipocrisias constantes, os seus tiques rudes e parolos, os seus estrangeirismos inúteis, as suas batalhas mentais, as suas declarações de ódio desmesurado, as suas falsidades constantes e o seu ritual de lambe cus, as suas palavras interesseiras, o seu sentido de humor inapropriado, a sua generosidade oportuna e por fim, até a sua tentativa patética e fracassada de ter algo a que chamam de vida.

A emigração parece uma tentativa sedutora. O sair daqui, fugir desta pobre comunidade que se fecha em si mesma enquanto se julga o supra-sumo das comunidades, o fazer as malas, o dizer adeus, o entrar no avião, o partir técnico, a passagem da fronteira, o chegar ao outro lado, o sair em tom prático, o sorrir, o dizer olá e a esperança infindável de que a partida sonhada e idealizada à junção da sua chegada ambicionada não sejam um total desperdício de tempo, desperdício de vida e de que não se conclua que lá fora é igual a cá dentro.

Porque nesse momento nascerá a triste pergunta: será que também somos o que odiamos ver?

Talvez.
Mas preferimos não saber.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Moribunda, a casa

E tudo o tempo levou. Infame e maldito, sem medo e sem pressas, levou consigo o que quis, quem quis, como e quando lhe apeteceu. Foram-se as noites e dias de natal, em que a mesa onde cabiam dez servia quarenta ou cinquenta, mais vizinhos. Em que as árvores de natal eram pinheiros mal cortados e roubados da terra do primo à última hora e o anfitrião da casa, o pai, era pior que os mais novos e roubava os relógios para antecipar a meia-noite, só para poder dar e receber as prendas. Prendas essas, que por falta de dinheiro, limitavam-se a cartas e desenhos, a pedras pintadas, a bonecos de palha, trapos e caixas enormes sem nada lá dentro, no fundo, pequeno e adorável lixo, mas sempre muito bem embrulhado, porque o natal naquela casa era os embrulhos e os enfeites.

O pai natal de vermelho era lhes um estranho, pois não havia tanta comercialização do natal, e a filha mais velha quando ouvia sons no sótão durante a noite natalícia, que provavelmente eram ratos muito metidos na sua pacata e complicada vida, julgava que era o menino Jesus a descer pela chaminé com as prendas. E os enfeites eram algo de outro mundo, muito improvisados e um pouco aldrabados, de tons vermelhos e dourados. E as fitas, essas eram em farta e de toda a espécie, coladas ao tecto, coladas à lareia, nas cadeiras e nos móveis, eram tantas e de tantos feitios que mais parecia Carnaval do que Natal.

 Foram-se os dias de Páscoa, em que vinha o padre com Jesus na cruz para se beijar, e que ninguém podia comer carne. Mas isto era tudo coisas da avó, a religiosa da casa. Os outros esperavam que ela fosse dormir, que chegasse a meia-noite e que acabasse o jejum de carne para se ir matar o porco e comer umas boas febras pela calada e às escondidas.

Foram-se também as grandes festas de aniversário, em que nunca se sabia bem quem era o aniversariante no meio de tanta gente. As jantaradas e almoçaradas aos fins-de-semana. A boa disposição, as anedotas porcas e às vezes labregas, e as outras muito bem pensadas, as palhaçadas e disparates, as partidas em que todos alinhavam, as loucuras, as confusões, as discussões e os conflitos resolvidos com abraços e terminados com o perdão.

Foram-se os bisavôs. O avô. A avó. Os tios, os primos, os cunhados. O pai.
Para trás, ficou a casa.
A casa e os que não morreram. Uma casa onde viveu gente, descansou gente, morreu gente e fornicou gente. Palco de algumas tragédias mas inúmeras comédias. Agora é de todos e não é de ninguém. Está abandonada, sem dono, quase esquecida. Perderam-se as chaves e as portas estão arrombadas de tanta vez que foi saqueada. Todos a querem mas ninguém luta por ela. Ficou decadente, moribunda, já não há festas, não há alegria. Há o nada.

(do baú)

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O Libertino Idiota

A altura chegou a meio do quinquagésimo ataque de pânico. Os comprimidos deixaram de fazer efeito. O álcool deixou de ser cura. A droga deixou de ser antídoto. Reencontrar o amor deixou de ser solução. Como era costume, vestia o fato e sentava-se na grande poltrona que se encontrava no fim da sala. Respirava fundo, batia o pé, olhava em redor, contava pausadamente até cinco, assobiava Mozart e tentava-se acalmar. O fato deixava-o estranhamente mais confortável. Á sua frente visionava uma vida de solidão imensa e de alegria fingida. Antes tinha a desculpa e o porto seguro da missão que decidira empenhar. Mas ele sabia que a missão estava terminada. O seu tempo tinha chegado. Levantou-se, abriu a janela e empoleirou-se. Esboçou um pequeno sorriso, sincero, entre lágrimas e perdido da doença. "Boa viagem" murmurou a si mesmo. Olhou em frente. Deixou-se de cair. E acordou. Esta curta história não podia começar nem acabar com um suicídio se se quer contar a mais pura das verdades. Se bem que, suicídio é sempre dramático e apelativo. Começa como todas estas histórias costumam começar. Bem. Ele saltava de um lado e para o outro. O seu histerismo e espécie estranha de bipolaridade eram já conhecidos e reconhecidos. Tal como a sua estranha necessidade de mentir para divertir. Também se podia dizer que era conhecida nos quatro cantos do mundo a sua faceta apaixonada, enamorada e feliz. A vida sorria-lhe e dava-lhe com fartura, mas por algum motivo cansou-se e deu uma reviravolta. Podemos realmente censura-la? Quem quer uma vida de fartura, se se pode ter uma vida de caos que é muito mais interessante e toca muito mais nos corações. Não interessa contar o que se passou apenas isto: entre desastres e desastres, a vida levou o nosso personagem principal para um hospital. Foi forçado a habitar esse estranho e supostamente esterilizado mundo durante dois dias. E entre contactos com outros pacientes, uns loucos outros só fingidos, teve a mais banal das epifanias. Beber. De regresso a casa instalou-se no sofá. Seguiu-se um regime louco. Dormia duas horas por dia, deprimia as restantes, disfarçando-as com exercício e bebida que o deixava moderadamente alegre e indubitavelmente estúpido. Um mês se seguiu a este ritmo, chegando ao ponto de ninguém perceber se estava ressacado ou mesmo bêbedo. Durante a noite, ia a festas, desenvolvia frases tristes e supostamente atiradiças que lhe reservavam as mais ingenuas ou as que se encontravam num estado semelhante ou pior ao dele. Foi ameaçado pela família e pelos amigos para cortar no álcool. Não podemos dizer que ele era alcoólico mas a situação estava a tornar-se decadente. Ele acenou e concordou, mas duas semanas depois voltou ao mesmo ritmo. Sucumbiu uma vez mais. Ele merecia censura. Tinha deixado de tentar seguir em frente e deliberadamente encontrava o caos. Sentia que precisava dele. Queria se sentir mal. Queria ser masoquista. Queria a dor psicológica. Queria ser um coitadinho. Afastou a família e afastou os amigos. Beber, beber, beber e beber. Hoje diz-se que anda ai perdido pela noite, sem ninguém, como um condenado por si próprio, à espera de encontrar aquilo que já encontrou, como merece, como um libertino simplesmente idiota.

domingo, 13 de outubro de 2013

O homem mais impaciente do mundo.

Falta-me algo. Qualquer coisa. Urgentemente. Não tenho bem a certeza do que é. Já tive, agora já não tenho. Quero e quero, mas não sei o que quero.

Eu poderia muito bem ser um projecto científico de alguém. Tanta instabilidade, confusão e ridicularização junta só pode ser inventada. Real? Internem-me então.

 Do oito ou oitenta. Estou bem. Cinco minutos depois. Ainda estou bem. Dez minutos depois. Preciso de uma arma, tenho que matar alguém. Culpar os outros é sempre mais fácil.

Estou cansado. De tentar tudo e só conseguir nada. Sou um desequilibrado. Não me consigo adaptar a isto da sociedade. Um retardado em relações sociais. Esforço-me mais do que devia para parecer normal. Todas as minhas tentativas de entrar em sintonia com meio mundo, de ser menos estranho do que sou, falham disparatadamente. Quanto menos estranho tento ser, mais estranho sou. E ridículo. Vivo noutra época, noutro mundo, noutra rotina. É solitário. É uma merda. Bem que eu podia ser considerado um projecto científico de alguém. Acabo por parecer inventado. Uma personagem secundária da sua própria vida. No final do dia, sozinho com o silêncio do meu mundo e com a barafunda da minha mente. Preciso de um pouco de juízo. Limites. Senão acabo morto numa sarjeta.

sábado, 12 de outubro de 2013

El Labirinto del Fauno

Sou uma pessoa que se rende facilmente a vícios. Principalmente no que toca a Música e Cinema. Não necessariamente por essa ordem. Lógico que falamos de vícios saudáveis. Aliás, mais ao menos saudáveis. Tudo o que roça a obsessão é doentio e eu chego a ser obsessivo.

Se eu gosto de um filme, vejo-o até à exaustão, até saber tudo o que há a saber sobre – como foi feito, com quem feito, quem teve a ideia, onde foi inspirado – e perco-me na desilusão por nunca conseguir saber tudo e por me ficar apenas no “sei mais ou menos”. Mas é mais saudável assim. Aconteceu com O Corcunda de Notre Dame, quando era criança. Aconteceu e acontece com a trilogia Senhor dos Anéis, da qual sou um devoto fã. Aconteceu com o The Big Fish, filme que vi seis vezes num só fim-de-semana. Aconteceu com Cloud Atlas que vi 23 vezes num só mês. E agora, está a acontecer com O Labirinto do Fauno.

 Esta minha obsessão com filmes tem uma explicação. Eu sou uma pessoa que vive ainda presa num mundo de autêntica imaginação. E os filmes são o meu escape do mundo real. E só vejo mais filmes do que leio livros por um simples facto: música. Às vezes acredito que eu respiro música. Sim, poético. Não consigo passar um dia sem ouvir música. Tal como não consigo passar um dia sem ver um filme. E um filme sem música não é nada. Um filme com boa música pode ser tudo. Estão interligados.

O Labirinto do Fauno junta o melhor de dois mundos. Um excelente e poderoso argumento, e uma estrondosa banda sonora. Aviso já, não levem a minha palavra muito a sério. É um acérrimo fã que está a falar, logo não fala no seu perfeito juízo. A sua opinião não deve ser levada em conta, e para quem não viu o filme, tente ver com a menor das expectativas.

E depois O Labirinto do Fauno serve-se também dos meus temas favoritos no que toca a Cinema. Fantástico, em quantidades moderadas. Guerra, de forma crua e fria. Imaginário infantil, de forma inocente e derradeira. São filmes como este que me fazem pensar duas vezes antes de me querer meter na indústria cinematográfica. Como li algures, “Se não gostar, digo que odeio. Se gostar, digo que odeio porque tenho inveja”.
Claramente, odeio este filme de morte. Odeio porque gostava de ter sido eu o génio por detrás do conceito. E embora não seja fã de Guillermo del Toro, este filme conquistou-me e transformou-se numa das minhas principais referências.

 Uma obra-prima e como muitos dizem: um filme obrigatório.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Ódios de Meia-noite.

Aos maus da fita é sempre feita a tradicional pergunta: como é que consegues dormir à noite?
Se costuma haver resposta, de momento não me recordo. Talvez fosse algo como: da mesma forma como tu.
Seja como for, se forem sinceros, coisa que, por norma escrita e implementada há séculos, nenhum mau da fita o é, a resposta inquestionável seria: não consigo.

Tenho dificuldades em dormir.
Dificuldades em acordar.
Sou perseguido todas as noites pelo mesmo pensamento, a mesma lembrança. E essa lembrança não me permite viver com propósito. Permite-me viver aterrorizado. E às vezes nem no terror me permite viver.

A minha breve fuga é o trabalho, e não escondo que o trabalho é um saudável e gostoso sacrifício. O trabalho e o imaginário.
Condenada está, podre ficou, enferrujada é, gasta e fraca se sente, a minha alma.
Poeta de meia-noite, deprimido em dia parado, ingrato e infeliz por não conseguir aproveitar o que sabe que tem. Podemos dizer que se tornou mais uma necessidade do que um facto. Tornou-se imaginária, inventada e constante.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A Falsa partida para Moura

Quinta-feira, comemorar os anos da avó, ir ao chinês caricato, vazio, com algum suspense, digno de Matrix ou de um filme do Jackie Chan, beber cerveja chinesa, sabe mal, beber mais para ver se finalmente se gosta.
Sexta-feira, perder o telemóvel outra vez, comprar um ukulele, fazer a mala, por chapéu de palha, carregar velhos móveis que são recambiados para a terrinha numa carrinha grande branca, sair de casa às nove da noite para partir para a terrinha, ir ao macDonalds, comer na carrinha, voltar a casa porque nos esquecemos de algo, chegar a casa e perceber que afinal não nos tinhamos esquecido de nada, às dez da noite avançar pela estrada, cantar ciganadas, cortar fatias de bolo com canivete, fazer barulho com ukulele, dormir, chegar, descarregar, dormir.
Sábado, dia para morrer.
Domingo, dia para morrer dois, porque sabe bem.
Segunda, acordar às seis da manhã, sair da terrinha de volta a Lisboa. Fazer mais barulho com ukulele, cantar músicas dos anos 80, dizer que a fórmula 1 não presta para nada, ser ameaçado de morte por tal afirmação, adormecer com medo, chegar a Lisboa, ir ao dentista, dentista faz as tradicionais perguntas enquanto eu estou de boca aberta sem poder falar, sair do dentista, ir para casa, esperar telefonema do alentejano para partirmos para a terra dele. Duas e meia, telefone toca, sair de casa, ir ao Donaldes comer um gelado com o alentejano. Falar da vida, falar de projectos, falar de como seria se em vez da cadeiras, as carruagens do metro tivessem sofás. Ir para a estação de comboios. Quatro e meia, ir levantar dinheiro para pagar o autobus. Multibanco, não reconhece cartão. Ir a outro multibanco, cartão não reconhecido. Faltam 10 minutos para o bus partir para Mouras. Alentejano diz: não dá para emprestar dinheiro, porque gastei donaldes. Ir a um multibanco no cu de judas. Não reconhecido.
Alentejano parte sem mim, volto para casa deprimido e sem dinheiro, como canja como jantar, e peço dinheiro emprestado.
Amanhã é que vou para Moura.

Espero eu.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

192 horas - lisboa, cidade sem descanso

O regressar a Lisboa é infelizmente, infeliz. Isto porque estar de papo para o ar é maravilhoso.
A sorte está em ser uma estadia curta e dedicada exclusivamente ao trabalho e à preparação da viagem para a mítica cidade que é Moura, que nunca nenhum lisboeta viu, mas que parece que é desta que vai ser vista. Não deitemos é já foguetes Planos são feitos, malas são desfeitas, filmes são vistos, reuniões são longas, conversas são grandes, horas de dormida são poucas e horas em frente ao papel são ingratas. Estou a avançar com uma das minhas escassas tentativas de uma curta-metragem séria. Não vou entrar em detalhes, porque quero que seja uma surpresa e sonho em lança-la em festivais e concursos, mas por agora, o projecto chama-se “Febre” e parece ter pernas para andar. Estão prestes a começar as discussões com os actores escolhidos, as revisões de argumento, os storyboards e claro, não tarda nada, as filmagens.
 Fora isso, vem a releitura e a panca pelo mundo de Tolkien, o renascer de um guião esquecido, a bela da sandes, as maravilhosas olheiras e o cansaço criticado mas adorado.

terça-feira, 30 de julho de 2013

144 horas - terra dos deprimidos.

(o título aldraba tudo)

Praia, Verão, pessoas a mexer no nariz, pessoas a mijar na água enquanto falam com outras pessoas, pessoas a colarem-se às toalhas dos outros, vento, chapéus a voar, crianças a gritar como chimpazés, bolas a voar na nossa direcção, novelas de putos de 14 anos no bom engate à morangos com açúcar, dicas do género "ela é como a net, tá sempre a actualizar", bulling na praia, churros, gelados gigantes, pizas, queimar a pele, mergulho, amonas, fotografia para o face, relax, ler um livro, jogar candy crush, deixar livro a meio, maratona Senhor dos Anéis, tentar outro livro, passeata romântica, beijinho fofo debaixo do lençol, feira do livro, ficar decepcionado por não comprar nenhum livro, kell corte de cabelo, kell aparar pelos da barba, exercício para suar um pouco e descargo de consciência, colheradas de nutella como recompensa, debates de política de cinco segundos, histórias de birras, histórias de natais do tempo das vacas gordas, críticas ao tempo, elogios ao tempo, luta contra o albinismo da irmã, derrota contra ao albinismo da irmã, sardinhada para uns e febras para os outros, avó oferece dinheiro, aproveitar e pedir dinheiro à mãe, pedir dinheiro ao tio, pai oferece dinheiro para não ficar mal visto, pedir dinheiro à tia, tia manda dar uma volta, sair de casa, ver mega samba de sesimbra, ver gordas a dançar quase nuas, castelos branco maluquinhos a dançar esquisito, sesimbra quase a parecer o rio de janeiro, padrinho de praxe meio larilas visita para chular bola de berlim, ver caranguejos como se fossem seres raros e tirar foto com eles.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

24 horas depois

Comecei hoje a minha cruzada de férias e não, não vos vou encher com o quão bom foi ir à praia, passear pela vila, nem o quanto eu merecia estar de férias depois de muito trabalhar blá blá blá. Vim só partilhar umas cenas bué do nice e extremamente inúteis para a vossa vida, meus caros possíveis e imaginários leitores.
Hoje foi dia de derrotar o albinismo da minha irmã. Há dois anos atrás, ela divorciou-se da praia e hoje decidiu reconciliar-se. Vamos ver se a miúda fica preta de vez, como nos velhos tempos, nem que espetemos óleo Fula para cima dela.
Depois a praia tem algumas coisas que me irritam (cabrão, está na praia e ainda se queixa). O excesso de areia, os cães que escavam buracos (tão fofos *.*) e que depois cagam lá para dentro e enterram...e claro, o skimming. O skimming é o que os putos fazem com mini pranchas. Ficam a olhar da borda da água para o mar durante horas e depois, de vez em quando, atiram-se para apanhar umas ondas e fazer uma espécie de surf. Até aqui tudo bem. Porque acho bonito e até gostava de fazer. O problema é que aqui em Sesimbra o mar parece o mar morto, sem ondas. E nunca vi ninguém a conseguir manter-se em pé naquela prancha. Mas continuam a tentar. Principalmente quando estão lá pessoas. E isto consegue chatear mais do que aquilo que todos sentimos quando vamos à praia - com tanto espaço as pessoas vem por as toalhas em cima de mim. Eu acho que skimming foi um desporto inventado pelas crianças para molhar o pessoal. Isso e jogar futebol na praia. Acho que quando for velho, vou comprar uma casa mesmo em frente a um campo de futebol e depois estar sempre sentado no alpendre, para quando a bola bater na minha casa, agarrar numa faca e destruí-la enquanto solto uma gargalhada maléfica. Qual velho do UP qual quê...

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A arte perdida de cair da bicicleta

Em alta velocidade, marcha uma foto.
Rio-me face ao perigo.
04:30 - Quero dormir mas não consigo. Já não me lembro da última vez em que dormi e dormi bem. Vou para a sala, e ligo a Zon fibra (viver com os papás tem destas maravilhas) e como só está a dar televendas e a Vida com os kardashians vou ao guia da zon para ver se encontro algo podre para ferrar a dormir enquanto vejo. Basicamente, isto foi para me gabar que tinha Zon em casa. Sou milionário.
04:45 - Depois de muito vasculhar, decidi escolher algo giro e ponho-me a ver o filme "Como perder um homem em 10 dias";
06:12 - Percebo que o filme devia-se chamar "Como conquistar um homem em 10 dias? Faze-lo sofrer e assustá-lo, mentir-lhe, usa-lo para fins profissionais e depois descobrir que o homem estava a fazer o mesmo e depois pedir desculpa e viver feliz para sempre". Choro de felicidade por ver mais um casal feliz.
06:13 - Percebo que não estou a dormir - lembrem-se que estou numa situação complicada. Estou acordado desde das 10 da manhã do dia anterior e tenho o cérebro em batata, podiam-me pedir para apontar a Costa da Caparica no mapa e eu dizia que era em Cascais.
06:14 - Decido sair de casa e por-me na bicicleta. Lavo-me e visto-me à ciclista e ponho-me na rua. Percebo que lavar-me foi algo estúpido visto que vou chegar a casa a suar que nem um cavalo.
06:20 - Volto a casa porque esqueci-me do capacete, e a segurança está primeiro que tudo.
06:45 - Chego ao Marquês de Pombal;
06:50 - Descubro o Terreiro do Paço e chamo-lhe Praça do Duarte. Tiro uma fotografia para registar o feito e para quando regressar ao reino ter provas de que existe terra no fim do mar.
07:34 - estou debaixo da Ponte Salazar. Tiro outra fotografia para registar o feito.
07:48 - Olá Belém.07:53 - Cheguei a Algés. Feliz aplaudo-me a mim mesmo mas não tiro fotografia porque quero ir mais longe.
08:03 - Jamor. É a primeira vez que aqui vim, e é aqui a minha primeira queda, quando decido que mais giro do que espaço que há próprio para se correr e para o desporto, é mais fixe ir para o meio do mato e das árvores, armar-me em campeão de corrida. Sou surpreendido por dois cães. Olá chão.
08:05 - Sonho em ir mais longe, mas não sou nenhum Rui Costa e decido regressar a casa.
08:23 - Belém. Dá-me um ataque de fome, e vou ao primeiro café que me aparece.
Deixo a bicicleta lá fora como se fosse um grande motão, peço um Ucal e uma merenda e sento-me exibindo o meu capacete estranho de ciclista.
08:25 - Um velhote entra no café. Olha para mim de alto a baixo. Olha para a bicicleta que está na rua. Dá-me um tiro e foge com a bicicleta. Mentira mas podia ter sido. Pede um galão. Senta-se numa mesa à minha frente e pergunta-me: oiça lá, a bicicleta é sua?
Eu respondo: sim, porquê?
Ele olha me alto a baixo, provavelmente notando o meu espetacular físico e diz: então mas explique-me, você é ciclista ou futebolista? (isto porque levava gandas meias de futsal porque ainda não percebi que tipo de meias se deve levar e assim.
08:45 - Terreiro do paço. Sinto o telemóvel a tocar e distraio-me. PUMBA, mesmo em cima de porsche.
O dono da viatura sai a mandar vir, a insultar a minha mãe, a insultar a mãe dele, o que não percebi e achei uma falta de respeito, dá um pontapé no pneu enquanto espumava de raiva e eu pedia desculpa. Disse-me: sabe que estes carros são um balúrdio? vem com a mania que é condutor e depois faz esta merda.
Por momentos calei-me e pensei em juntar o carro que estava atrás de nós à discussão dizendo que a culpa era dele, porque estava me a perseguir, mas só ia a 20 quilómetros por hora, porque é esse o limite estipulado pela lei, e que deu com o focinho do carro na minha roda e que isso me fez despistar.
08:56 - Saldanha. Estou roto. De rastos. No entanto vejo imensas pessoas a olhar para mim. Penso: fogo isto parece a Volta a Paris ou assim, wow, brutal, vou soltar as mãos do "volante" e agradecer - se calhar é melhor não, que me espeto todo. Depois lembrei-me que estava com um visual esquisito. Parte de cima - gajo da bicla. Parte debaixo. Gajo da bola.
09:10 - Descubro o verdadeiro motivo pelo qual as pessoas olhavam para mim.
Estava com o rabo à mostra.

Agora vou partir de viagem, querido diário, e devo dizer que estou ansioso. Porque pode ser desta que durma um bocadinho. No entanto, algo me diz que se adormecer, acordo 20 horas depois, como se fosse um leão.
O que me deixa a pensar. Se um leão só está acordado 4 horas, o Simba bateu recordes. Estava no modo Hakuna Matata por volta das 4 da tarde. Chega a Nala, cantam o nesta noite o amor chegou e já são 9 da noite. Horas de caminha. Mas não, o Mufasa chega. Isto já é meia noite. Fala com o macaco e começa a correr que nem um desvairado para salvar o reino. Chega ao deserto são duas da tarde. Reino, 4 da tarde. Luta com Scar, chove uma beca, são 6 da tarde e o reino está salvo. Rosnar um bocadinho e a seguir é que deve ter ido dormir.
Desculpem o texto gigante.
São horas de divagação.

A minha tromba à frente do Mosteiro do Jerónimo.
Próxima foto de perfil, oh yeah

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A arte de estar constipado

E eis que não sei quantos meses depois, regresso à profissão de blogger que se serve deste blog como se este blog não fosse um blog mas sim um querido diário.
De todas a vezes que já estive acamado e quase a sucumbir à doença, acho e sempre acharei que as piores vezes são as vezes em que estou constipado, ou melhor (e mais chique) em que estou com uma nanofaringite. Não que nas outras vezes não tenha sofrido horrores, ou que não tenham sido piores, mas a constipação é uma doença algo ingrata e pouco credível. 
Se eu disser: estou constipado.
A resposta imediata é: isso não é nada.
A constipação não é uma doença respeitada o suficiente como uma doença que nos incapacibilita para trabalhar nem para faltar às aulas/ao trabalho, mas é bruta o suficiente para nos tirar as condições de ir a algum lado ou de fazer alguma coisa. Por isso é que lhe chamo uma doença ingrata.
Se eu grito ao mundo: hoje não posso ir porque estou doente!
O mundo grita de volta: a sério? o que tens? já tomaste alguma coisa?
E eu respondo: estou constipado, ando a...
O mundo interrompe e diz somente: choramingas. 

Mas isto falo de constipação violenta a fugir para a gripe, não de tipo aquela constipação de um simples atchim. Isso é para meninos.


sexta-feira, 29 de março de 2013

A vida de estudante

A minha vida de estudante divide-se em três fases desde que entrei para a faculdade:
A primeira fase - a vida de férias - costumava durar quase 8 meses por ano, e agora costuma durar uma semana, duas semanas. Esta é a fase em que o mundo me vira as costas e eu viro às costas ao mundo. É o meu retiro espiritual. Leio, durmo, como, durmo, vejo séries. O significado da minha vida resume-se à preguiça e eu dela me torno rei. Melhor, imperador, ou mestre das suas artes. Coçar os...sobe para outro patamar e torna-se eloquente, divinal e até mesmo algo nunca antes visto. Enfim.
A segunda fase - a vida louca - dura menos tempo porque o fígado e a carteira não aguentam. É maravilhosa. Implica sair à noite como se isso fosse indispensável, implica lançar piropos e frases matadoras ridículas, mas que serão ecoadas às gerações vindouras, implica adormecer bebedo, acordar bebedo, implica praticar desporto bebedo, porque de outra forma, nunca praticaria desporto, implica dormir fora, comer pouco, porque não há tempo para isso, enfim, implica fingir que sou uma estrela de rock amadora, porque continuo a não chegar aos calcanhares de ninguém dessas andanças. 
A terceira fase - a vida de trabalho. Em tempos esta era um mito. Um mito que soltava gargalhadas sempre que era sussurrado. Hoje é um facto. Existe. Passou de raro a uma regularidade. O que tanto pode ser visto como uma chatice como pode ser visto como uma maravilha. Para ser sincero, ainda não decidi. Por um lado, enoja-me, dá-me vomitos. Sempre que chega apetece-me gritar: Vade retro Satanás, enquanto corro pela minha vida. Por outro lado, faz parte de mim, e sempre que chega, apetece-me soltar foguetes, gritar: Aleluia, it's raining work! No entanto, é um pau de dois bicos. 

quinta-feira, 14 de março de 2013

O sonho de um realizador.

É ter um actor à sua disposição.
Quando digo actor, é alguém que em toda a sua essencia é um actor.
Que é alguém com o espírito, com o carisma, com a vontade de actor.
Com a chama de cinema e com a alma de teatro. Dotado em expressividade, em inspiração, em improviso.
É algo que não cai todos os dias do céu. E quando cai, agarra-se e aproveita-se.
Sendo amador como sou, sonhador e com grandes projectos, mas preso à simplicidade e à limitação de custos que nos ensina e nos faz crescer, ter encontrado alguém assim, foi como um sinal divino. Foi o que esperei ansiosamente e em segredo desde que me conheço como amador de vídeos. Não estou em posição de me queixar nem tenho razões para tal.
Aceito o que tenho, trabalho com o que posso.
O meu trabalho é tornar o mau em aceitável ou bom. É agradecer de joelhos aos que se prestam e aguentar um não que limita o imaginado.
Encontrar um actor é algo único. O que nós queremos é alguém que saiba pensar por si e que faça o que queremos. Que nos surpreenda e que não tenha limites. E se os tiver, quebra-os.
Isso é um actor.
Alguém que canta, se tiver que cantar, que se despe se a cena assim precisar, alguém que faz o que tem que fazer. Isso é um actor.

Eu encontrei um actor.
E acabei de encher o ego a alguém.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

E agora quero fazer uma série.

Dedico este texto aos meus pais

Porque não tenho vocabulário suficiente para escrever um livro onde colocaria uma dedicatória aos meus criadores.
Porque eles já mereciam ser vítimas de uma das minhas exaltações literárias.
Porque de momento se encontram subtilmente chateados comigo e eu, como consequência, encontro-me subtilmente de castigo (sim, aos olhos da lei sou adulto, aos olhos dos meus amigos são uma criança, aos olhos deles sou mais um peão na sua ditadura democrática, ou democracia ditatorial, ainda não se decidiram bem) e isto é uma certa forma de lhes dar uma subtil graxa.
E porque a eles devo tudo, mesmo quando ajo como se conseguisse viver sem eles, quando no fundo ainda sou péssimo a passar a minha roupa a ferro e se abrisse um restaurante e eu fosse o cozinheiro, a ementa diria “Massa com atum”. Miúdo irresponsável do final do século XX.

Tenho estado a atravessar uma crise de escrita. Já desenvolvi algumas teorias sobre o que se está a passar e as principais são “Ou a minha vida está a correr demasiado bem ou eu não tenho usado gravatas com a frequência habitual”. Não tenho conseguido passar para o papel os meus pensamentos depravados e maníacos, o que tem sido desagradável, visto que eles até têm estado a surgir em demasia. Ou seja estou com inspiração mas sem inspiração. Ou se calhar é só preguiça de férias.
Passo os dias a ver séries, a ler livros, a dar voltas por Lisboa de bicicleta (ainda só o fiz uma vez) enquanto magico curtas, vídeos, histórias, e agora, uma série. Em excesso tenho o tempo e até posso dizer que forte é a vontade. Falta é a inspiração. E em excesso há a preguiça. O projecto de última hora é uma série. Como se eu não andasse há já tempo suficiente com a mania que já completei o curso e de que tudo o que tenho feito a nível, digamos para parecer bem, artístico e de entretenimento é de facto rentável e é o meu pão do dia a dia. O preguiçoso que vai a todas. Essa é de rir.
 A série ainda não tem história definida, só ideias apontadas, desejos oprimidos, personagens que são pessoas reais mas exageradas porque ainda não tentei criar personagens do zero. Não vos quero dar excertos da ideia que está por detrás desta série, para na eventualidade de a conseguir realmente realizar, não estragar a surpresa mas digo isto: apresentei a ideia à minha mãe e ela nem um sorriso esboçou. Continuou com a sua vida e limitou-se a dizer: está engraçado.
Fiquei devastado. Desde que me conheço como pessoa que o principal objectivo da minha vida tem sido sacar sorrisos aos meus pais e enche-los de orgulho com os meus disparates. Se calhar não é totalmente verdade. Mas fica bem escrito.
 A verdade é que a opinião da minha mãe é das poucas que eu levo em conta, portanto se calhar, vou desistir da ideia da série e concentrar-me noutros projectos.

 Como conseguir ver 92 séries em 2013.

Ou então, esqueço a ideia original da série e faço algo do género do Spartacus, da Starz, mas a chamar-se O Viriato. Muito sexo e porrada. Mas à português, não?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Dancing with myself.

Uma vez engatei uma rapariga (isto porque sou um grande sedutor) com a frase:
- Viste o céu ontem? Estava azul.
Ela riu-se. Safei-me. Namoramos duas semanas.
Mas afinal ela era uma psicopata de “foste com quem, estavas com quem?”.
 Bem que tinha tido a sensação de que tinha sido demasiado fácil.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Cinema, Je t'aime.

Quem corre por gosto cansa mas continua.
 Comecei esta vida há cerca de seis anos, de fazer vídeos, de gravar músicas, de escrever (tudo junto e resumido resulta em como lhes chamam os convencidos em “Arte”), e foi nessa altura que me apercebi de que era isto que queria fazer para o resto dos meus dias. Grande parte das pessoas chega ao final da vida sem ter a mais pequena ideia do que quer fazer da vida, enquanto outras, felizardas ou não, sentem-no no seu instinto assim que se apercebem de que são pessoas. Eu sou um desses sortudos.
 No entanto, façamos um background. Antes de decidir que queria meter-me nesta vida de Cinema e de Música, eu quis ser polícia, actor, cantor, realizador, editor, futebolista, treinador de futebol, produtor, bombeiro, marinheiro, soldado, segurança, canalizador, secretário, líder de uma grande empresa, banqueiro, etc. Dia novo, profissão nova.
E confesso, que ainda hoje, quero ter uma profissão nova todos os dias. É um desejo tão violento e insaciável, aliado a um medo de cair numa rotina sem gargalhadas e tema de conversa, que se apodera de mim desde que me conheço como pessoa. Tenho lutado toda a minha curta vida para não terminar os dias a olhar para o mesmo ecrã, para a mesma sala, para a mesma vida. Quero inovar. Quero fazer tudo.
Infelizmente, tal é impossível.
Agora imaginem, que estavam na minha posição e que de repente vos diziam que: é possível, que podem ter acesso a tudo, nem que seja a um pequeno deslumbre do que tanto anseiam e precisam como precisam de oxigénio para viver. Aceitavam?
 Pois bem.Cinema. Onde a magia se torna real. Onde qualquer um pode ser arquitecto, jogador da bola, nem que por escassos momentos, sem aprender propriamente o ofício, mas adquirindo um pouco do mesmo, o suficiente para nos deixar parcialmente satisfeitos. Onde brincamos aos Deuses, criamos mundos e criamos vidas, que serão imortalizadas, passadas de geração em geração, ou então perdidas no tempo, mas relembradas por nós. Onde o impossível se torna possível e vice-versa. Onde damos outro sentido à realidade, onde nos abstraímos da realidade. Onde o fingimento é aclamado e onde ser parvo é aceite como talento.
Garanto no entanto, que esta minha infeliz e fraca ode ao Cinema não deixa impune os seus vírus e as suas lacunas. É um mundo sem precedentes e maravilhoso que é explorado por snobes, por teorias que não passam de teorias, pelos que se chamam de artistas e não o são, pelos que só querem lucrar,  por críticos que criticam os clichés esquecendo que os clichés fazem parte da nossa vida e que usam clichés enquanto criticam, que se esquecem que não sabem nada de Cinema, porque ninguém sabe.
Cinema não se sabe, Cinema vive-se. O melhor crítico de cinema é a pessoa que se perde genuinamente no filme, não o que ganha para ser crítico. Esse é só mais um com opiniões.
E o Cinema também me enjoa. Esgota-me. Retira-me vida. Consome-me por dentro. O trabalho pedido, o esforço exigido, a ingratidão que se enfrenta. Num dia somos estrelas, no dia a seguir somos lixo. Todos sabem disso. A experiência só me ensinou três coisas que dificilmente tirarei da minha mente: ninguém trabalha bem e de livre vontade de graça, gerir egos é o mais complicado para se fazer nos bastidores, e fazer filmes a preto e branco saí mais barato e dá menos trabalho. 
Mas aliando o ódio ao amor, são estes os motivos que me levaram a escolher o Cinema como obra e legado da minha curta e insignificante vida. Posso não ser apreciado, posso ser criticado, acusado de banal, de repetitivo, de dizer algo que já foi dito, de fazer algo que já foi feito, lembrando a todos: que tudo já foi dito, agora só recontamos e inovamos, mas que sinceramente, tal não me interessa, pois estarei a ser feliz.
 Cinema, a verdadeira paixão da minha vida.
 O meu amor, o meu ódio,
 o meu ofício, o meu vício.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Matemos todos!

"Devem morrer rapidamente" disse Taro Aso, ministro das finanças do Japão em relação aos idosos doentes, para se poupar dinheiro ao Estado.
Sinceramente, inicialmente, parti-me a rir por ter tentado imaginar o homem a dizer isto em japonês.
Depois reflecti um pouco sobre o assunto e imaginei uma realidade alternativa mas não assim tão alternativa em que esta situação se estivesse a passar cá em Portugal. E aí confesso que fiquei com medo.
Medo pelas pessoas que tentariam matar as minhas avós.
Agora atenção possível leitor, não estou a tentar dar a impressão de que eu sou mauzão, bad ass, e que iria dar uma de super herói e defensor das avós. Mas só não faço isso porque elas não precisam.
Como já disse no passado, sou um rapaz dotado com três avós.
A minha avó paterna, a Beatriz - para vocês Dona Beatriz, ou Lady Beatriz -, mesmo estando doente, trabalha mais do que cinquenta clones da minha pessoa juntos (se calhar exagerei, mas a mulher é valente). E depois, é traficante de órgãos e está ligada à Máfia. Ela diz que é um trabalho lucrativo. Eu não faço perguntas enquanto os fatos Giovanni Galli e os bolos continuarem a chegar.
A minha avó materna, Isabel, a rainha de Cascais sem ser tia de Cascais, tem os seus contactos com a vida boémia, é uma artista (é escritora publicada) e dá-se com demasiadas pessoas famosas para alguém conseguir sequer dizer-lhe olá sem passar por cinquenta seguranças e aparecer nas capas das revistas.
E a minha avó materna madrasta da minha mãe, a Natália, é assassina profissional e tem orgulho disso. E costuma ser a minha segurança pelas noites foras. Sim, vou apanhar bebedeiras e levo a minha avó atrás comigo. Ela é que se oferece. E dança melhor que eu, portanto.
E será que o shor Taro Aso também vai pensar assim quando estiver a bater as botas? Pois não é propriamente rapaz novo.
A ver vamos.

E pronto, era isto. Feliz dia das avós antecipado.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Duarte, o almeida.

Hoje foi dia de limpar a associação de estudantes. Não pus isso no estado do facebook para não me começarem a chamar Dona Duartina e porque não é algo que me orgulhe. Tenho a imagem de não trabalhador e quero mantê-la assim.
Mas agora fora de brincadeiras, já volto, porque ainda estamos em limpezas e eu vim para um computador fingir que estava a fazer um trabalho para ter que limpar menos mas acho que já estão a desconfiar.
Até já.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Estou mais preguiçoso que o habitual

A primeira fase de exames está terminada. Aguardo alguns resultados, mas se tudo correr bem, só tenho que fazer um recurso (o que é óptimo para quem teve que fazer seis exames - viva o sistema de avaliação do ISCSP e a minha esperteza saloia). Portanto estou na semana de férias a que tenho direito.
O problema é este, não quero parar.
Como já disse anteriormente, e vós, meus possíveis leitores, certamente se lembram, eu detesto viver sem rotina. Por isso tenho estado a meter-me em montes de coisas ao mesmo tempo, para ocupar o tempo, para ser menos calão, para não passar os dias inteiros deitado na cama a comer que nem um javardo e a ver filmes e séries (o que é tentador, admito) e para ter uma rotina espetacularmente interessante.
Lembrei-me este ano de ir para a direcção da associação de estudantes, só para parecer bem, de criar um talk show com o meu melhor amigo (sim, bff *.*), de me tornar blogger - OH MEU DEUS (estou a falar comigo próprio), PÁRA TUDO. Se eu tenho um blog, então eu sou um blogger. Não devia de receber dinheiro por isso? Não devia colocar isto no meu perfil do facebook e no meu twitter? Já coloquei que pertencia à AEISCSP portanto isto era só mais algo para eu parecer extremamente interactivo, responsável e trabalhador. E podia dizer que queria uma mala! (damn, fiz uma piada sobre a Pepa, não bem sucedida, mas está feita). Bom, VOLTANDO À CENA QUE EU ESTAVA A FALAR. Tenho procurado emprego (a imagem de nada responsável está tão entranhada na minha pessoa que nem no McDonalds consegui arranjar vaga), estou a tentar realizar a minha primeira curta a sério e quero candidatar-me a um festival de curtas. 

Até aqui, tudo bem não é? Tenho trabalhado (na área criativa e pessoal, ou seja, para a maior parte do povo não tenho feito a ponta de um corno) e escrito que nem um doido. Mas a verdade é que o que tenho escrito tem sido lixo, que projectos há muitos mas não por agora não passam do papel. Aliás, neste momento, em vez de estar a fazer um vídeo  ou de estar a escrever um argumentozito, estou a queixar-me, num blog e para leitores imaginários.

E no fundo, o que vou fazer na próxima semana, apesar dos meus esforços - e de ter inclusive feito um horário que me obrigaria a levantar todos os dias às nove para fazer exercício - , vai incluir pipocas, doces, cama e filmes.
Estou já a antecipar que só vou voltar a fazer algo de jeito quando estiver ocupadíssimo com a faculdade. Como sempre.

Preguiça, you win again.
bitch. 

sábado, 19 de janeiro de 2013

Pequenos génios, viagem a outro mundo

Porta aberta. Entro pela casa a dentro. Era esperado e aguardado, mas não com pompa e circunstância e sim com um inocente desprezo, de quem estava atarefado e não me esperava tão cedo. Lembrei-me de um bonito dito, que li num livro e vi num filme, e disse-o, com um sorriso estampado no rosto e ar bonacheirão: Eu nunca chego adiantado, nem atrasado. Chego precisamente quando devo chegar.
O grilo cantou. Ouvia sons de gente a correr de um lado para o outro, de quem limpava, de quem trabalhava, mas não via ninguém. 
De repente, surge um pequeno ser, um rapaz novo. Reconheci-o de fotografias. Irmão de uma amiga minha. Um pouco gordo.
Olá, disse eu, cordial e bem educado, sou o Duarte, tu é que és o famoso...
Fui rapidamente interrompido. O rapaz levantou a mão, enquanto bebia de um grande frasco, leite com chocolate. Numa resposta cuspida e que quase o engasgou, disse: sou.
Momento de silêncio constrangedor. O grilo cantou de novo. Olhei em volta. Pensei em começar conversa, mas não conhecia o rapaz de lado nenhum e tinha um certo ar inquietante, de quem tudo observa e tudo ouve. Observei. Casa bonita, pequena mas acolhedora. Moveis feitos pelo pai, que estava a trabalhar.
O rapaz virou-me as costas e arrumou tudo o que tinha arrumar na cozinha. Olhou para mim. Por momentos pensei que me fosse matar. Avançou até a um pequeno sofá e sentou-se a olhar para mim, dono de uma seriedade sem nome. O silêncio permanecia, mas podia jurar que ouvia o bater do meu coração. Depois apercebi-me que não, e que era o rapaz que batia com um martelo numa pequena mesa. Estava a gozar comigo. Bufei, pois não me ocorria nada para a dizer. Finalmente, o rapaz disse:
- O teu nome é Duarte?
- Sim, sou...
- Tens cara de Zé. Podias-te chamar José. Eu tinha um amigo que se chamava José, mas depois mudou de nome para António.
- Porquê?
- Não interessa, queres ver a minha colecção de moedas? Tenho imensas. Escudos, francesas, espanholas.
Fiquei calado.
- Então? não sabes responder ou falar? - insistiu o rapaz - tenho montes de colecções, queres ver?
Nesse preciso momento, numa aparição de certa forma triunfal e autoritária, entra porta a dentro uma rapariga loira, com um ar à primeira vista angelical, mas mortífero e de que fazia o que queria, como queria, quando queria. Mas a verdade é que eu ainda estava meio intimidado com o rapaz e com as suas perguntas, que nem dei muita atenção à entrada da moça.
Decidi finalmente que o momento de estar calado tinha chegado ao fim, e respondi:
- Sim posso ver, também faço colecções.
Dei por mim e estava noutro mundo. Colecções de pedras e de conchas, de carros, de moedas, de caricas, de tudo. Tudo era importante e nada devia de ir para o lixo. Armas de cartão, óculos de sol mais velhos que o tempo, atlas do mundo e se fosse possível do universo. Este era um rapaz que tinha que saber e ter tudo o que lhe interessava. Dinâmico, rápido e incansável.
A rapariga seguiu-nos e juntou-se à conversa e à demonstração de colecções, interrompendo várias vezes o rapaz no seu discurso, dando às vezes a parecer que sabia mais sobre as colecções que o próprio dono.
Não me perguntem como, mas vi-me arrastado para um mundo infantil. Fui neto, fui avô, fui cadáver, joguei às escondidas, à apanhada, levei tareia, fiz queixinhas à minha amiga que entretanto se juntou à festa, preguei sermões sobre não ser violento que ninguém prestou atenção, fiz uma pausa do mundo infantil e fui ajudante de carpinteiro por vinte minutos (algo que não estrebuchei  visto que o carpinteiro era o patrão da casa), regressei ao mundo infantil e ensinei passos de dança - mal ensinados, mas foram simpáticos e fingiram de mim um profissional - nadei num rio, respirei calma, tranquilidade e paz e acabei o dia perdido num bar poético cheio de cacarecos de outras eras a beber sangria, enquanto conversava sobre amores perdidos e paixões distantes.

Digo como disse no dia em que parti: já morro de saudades da Ribeira Branca

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Torno-me poeta depois da meia-noite.

A forma mais explícita e mais, digamos, esclarecedora de nos exprimirmos não é através de palavras, escritas ou pronunciadas, pois são pensadas, elaboradas e organizadas, e não chegam para exprimir as emoções da sua forma mais honesta e elementar. Palavras para quê se não são o suficiente?
É através do olhar que somos mais directos e sinceros. A janela da alma de uma pessoa.
Olhar. Essa raposa calada que sente e que demonstra o que sente, que nos traí quando queremos esconder, que nos salva quando não conseguimos descrever. É o olhar que demonstra verdadeiramente se gostamos ou não gostamos, se choramos ou rimos, que demonstra o prazer, que demonstra o gozo, tristeza, desprezo, a mais sincera alegria. E é o olhar, que por mais que tentemos disfarçar, esconder, mentir, que por mais que tentemos esquecer, que denuncia sempre a outra raposa que é o amor.

Damn.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O que é que eu aprendi na faculdade...

Aprendi que existem patos violadores e que Hitler era tarado sexual e tinha orgasmos nos seus discursos.

Isto entenda-se, nas aulas.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Decidi escrever um argumento

Faz agora um ano.
Como todos os supostos cronistas e escritores que se prezem, tive musas por detrás do argumento. A primeira nunca falou francês à minha frente, não sei bem porquê e a segunda venera cães.
Em tempos, já esteve pronto, terminado e com o bonito número de vinte e sete páginas. Mas depois de lido e relido, o seu destino foi a lareira, para parecer mais poético.
Agora está perdido em centenas de folhas soltas, com ideias, costumes, actores que eu gostaria de usar se tivesse orçamento, cronologias, anexos, etc. Estou até espantado com o excesso de referências a clássicos que estou a tentar fazer. Imagino-o como um épico, mas a primeira vez que o li vi-o como uma bosta.
No entanto, tenho sido teimoso e quero contrariar algo que foi regular no passado, a minha tendência de abandonar projectos a meio do nada. Dizem que a adolescência é o grande boom de ideias, mas somos demasiado confusos e problemáticos a nível mental para conseguir utiliza-las. Pode ser que daqui a cinquenta anos, já na suposta fase madura, consiga utilizar algumas ideias que tenho tido nos dias de hoje. Ou pode ser que não. Pode ser que olhe para elas e diga: ridículo. Ou pode ser simplesmente que esta argumentação de excesso de ideias mas que não as consigo usar, tenha sido só uma desculpa.
Enfim.

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