Todos os dias cresce a vontade de fuga.
A vontade de fuga da cidade, do país, do mundo e por ventura, talvez, do universo.
Esta sociedade deprimente foi criticada e assobiada ao longo dos tempos, em poésia rude ou gentil, em prosa áspera e crua, em falas mansas e sofisticadas. De que vale mais uma?
A vontade.
Das pessoas, tudo é irritante. Os seus jeitos, as suas conversas, os seus hábitos, ou seus maldizeres, as suas insignificâncias, as suas manias de grandeza, as suas pseudo-intelectualidades, as suas hipocrisias constantes, os seus tiques rudes e parolos, os seus estrangeirismos inúteis, as suas batalhas mentais, as suas declarações de ódio desmesurado, as suas falsidades constantes e o seu ritual de lambe cus, as suas palavras interesseiras, o seu sentido de humor inapropriado, a sua generosidade oportuna e por fim, até a sua tentativa patética e fracassada de ter algo a que chamam de vida.
A emigração parece uma tentativa sedutora. O sair daqui, fugir desta pobre comunidade que se fecha em si mesma enquanto se julga o supra-sumo das comunidades, o fazer as malas, o dizer adeus, o entrar no avião, o partir técnico, a passagem da fronteira, o chegar ao outro lado, o sair em tom prático, o sorrir, o dizer olá e a esperança infindável de que a partida sonhada e idealizada à junção da sua chegada ambicionada não sejam um total desperdício de tempo, desperdício de vida e de que não se conclua que lá fora é igual a cá dentro.
Porque nesse momento nascerá a triste pergunta: será que também somos o que odiamos ver?
Talvez.
Mas preferimos não saber.
Estou apenas de passagem, depois de ter descoberto este fantástico blog (e vídeos hilariantes do youtube) mas não quero ir embora sem deixar-te um "parabéns". Também adoro cinema (cinema de animação, em particular) e fiquei fascinado com as tuas palavras e problemas. Continua a escrever tão bem e espero que tenhas muito sucesso. ;)
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