segunda-feira, 6 de abril de 2015

41 dias depois, adeus trabalho

Rapidamente se aproxima o fim da minha estadia na revista SÁBADO.
Sinto-me, na verdade, como aqueles miúdos estúpidos a quem é dada uma oportunidade de ouro, um caminho duradouro para a sua a vida, mas que desistem a meio. Contra factos não há argumentos. É a realidade. E sei que tão cedo não terei outra oportunidade como esta. 

Como uns disseram e continuaram a dizer: "Ele vive noutro mundo. Está a perder tempo e não quer fazer nada. " A realidade é que ainda posso querer, e preferir viver feliz com pouco dinheiro. E nesse sentido, não quero viver miserável. 
Quero ter um motivo bom e válido para acordar da cama todos os dias.
Terei que voltar à odisseia de envio de currículos. Procurar um novo lugar para trabalhar e para ser explorado. Como é o dever de um jovem na sociedade. 

Deixarei para trás excelentes memórias. Não esqueço mentores, como Nuno Silva, Alexandre Azevedo, Daniel Neves. Que me ensinaram desde truques no photoshop como a trabalhar com ângulos fantásticos. Tal como não esqueço os meus directores, que confiaram em mim e que depositaram tempo e dedicação na minha formação. Foi a minha primeira experiência de trabalho para outrem, e melhor só com a papinha toda feita. 

Mas o meu lugar não é aqui. 
O meu lugar é lá fora. Não faço parte do mundo do Jornalismo. Não faço parte do mundo do marketing ou do trabalho em escritório. E eu, que sempre achei que sabia onde estava e o que queria, estou agora perdido. Ainda não sei onde pertenço. 

Tenho muito em que pensar, muito que fazer, muito que corrigir.


sexta-feira, 3 de abril de 2015

Marcha para o Esquecimento

Não devia ter tentado dar tudo.
Não devia ter acontecido.
Amigos. É tudo uma questão de conveniência.
Uma amizade não é só para os copos, mas até aqui nada de novo. Aos meus, tentei dar tudo. Ouvi, aconselhei, acolhi e ajudei. Prendas, nem tanto, mas sim gestos. Entrega absoluta e divina. Deixar para trás os meus interesses em prol de uma amizade. Quem meu amigo é, ganha um lugar na minha família. Utopia, logicamente.

Eu sei, parece que descobri hoje que o Pai Natal não existe, que a vida não é um mar de rosas e que amigos são amigos, quando dá jeito e lhes apetece.

Se não pareceu, juro que tentei, uma filosofia de ajuda. Uma filosofia de entrega e de confiança. O propósito desta filosofia nasce de uma necessidade um pouco egoísta. De uma necessidade de me transformar a mim próprio num personagem secundário da minha vida. De uma necessidade de me sentir bem e de conseguir viver comigo. De uma necessidade de me odiar um pouco menos.

Nesta minha cegueira, vivi na ilusão de ter a minha própria tropa. A minha guarda de honra. Um grupo de amigos, unidos, fortes e sempre lá. Na minha utopia, essa aliança era real.
De que serve confiar, se não podemos contar nem confiar nos que consideramos mais próximos?
De que serve confiar, se o nosso melhor amigo nos trai constantemente, ou por estar zangado ou por não saber o que diz?
De que serve confiar, se amigos nossos nos vêem cair em desgraçada, nos vêem afastar por estarmos miseráveis e não procuram trazer-nos de volta?
De que serve confiar, se amigos nossos nem nos ligam para saber como estamos, quando sabem que estamos mal?

Fecho-me agora na minha bolha, desiludido com aqueles que ajudei a criar. Desamparado no fundo do poço, desprotegido e dramático, sem ter aqueles que eram os meus comigo. Aqueles que me vêem como um falhado, como um auto renegado e como que só quer chamar à atenção.

E os poucos que se mantêm leais, afasto-os, amarrado à minha estupidez. A ajuda deles seria inquestionável e seria imprescindível. Mas é tarde demais. Não há lugar para mim neste mundo, 

Onde está a legião que me foi prometida?
Onde tocam os trompetes de socorro e de ajuda?
Onde está o amor que conquistei e que me garantiu não ter prazo de validade?

O relógio toca e a data aproxima-se. Está tudo a postos.

Na minha Utopia perdoei uns quando devia ter perdoado outros.
Na minha Utopia prometi não odiar quem me prometeu amar.
Na minha Utopia vi o mundo real e tive medo.
Na minha Utopia fracassada e em colapso só vejo um fim.
Na minha Utopia morrerei cansado de lutar sozinho.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

37 dias depois, exausto

A depressão não é um sintoma de fraqueza ou cobardia. É um sintoma de cansaço.
É uma doença, que poucos ou nenhuns percebem. Não por não quererem perceber, mas porque não conseguem conceber que alguém esteja demasiado cansado para viver. Neste mundo de faz de conta, em que todos temos que ser incríveis, todos temos que superar os nossos obstáculos, os cansados são deixados para trás, para abater.
É natural. É a lei do mais fraco.
Existem as clínicas, as consultas. Algo do qual eu nada sei e espero não vir a saber. São algo que supostamente ajuda aqueles que estão em baixo de forma, rendidos à depressão.
A depressão não é fraqueza. É cansaço. 
Nem todos temos o mesmo espírito. Nem todos temos a mesma vontade. Não somos iguais, e isso incomoda os que não conseguem perceber a depressão.

Para a depressão, apresentam como ajuda, como solução a escrita. Eu estou de facto admirado com a quantidade de palavras que já escrevi hoje, que não é normal. Porque nunca estive tão apático do mundo como estou agora. E o meu problema nesta aventura de escrever é que nunca sei ser subtil. Quando escrevo, as pessoas ou não sabem do que escrevo porque é completamente alucinado ou sabem do que falo. Não sei disfarçar, nem omitir detalhes. Sou demasiado directo e pouco privado. É um terrível defeito. Se fosse escrever um livro sobre as minhas escassas aventuras, os que me acompanharam nesta paródia de vida iam-me odiar. 

Só que não há escrita sem Musa. A musa é aquela pessoa que nos inspira, que nos liberta da mente, que nos recorda daquilo que somos capazes, que nos faz ver o mundo de outra forma. É aquela pessoa, que só o olhar, o sorriso, um simples gesto nos faz querer criar. É aquela pessoa que desperta o melhor de nós. É aquela pessoa que nos faz sentir vivos. Há dois anos atrás, eu cometi o erro de deixar que me conquistassem o coração. Cometi o erro de me apaixonar pela minha musa. Cometi o erro de imaginar um futuro. 

Os últimos dois anos foram os mais produtivos da minha curta vida. Quer em material sem nexo nenhum, quer em coisas que até tinham alguma graça e razão de ser, houve mão de alguém que não eu. A musa é tudo. Sem musa não somos nada.
À minha musa devo um talk-show, demasiadas curtas, centenas de textos, vídeos, personagens fictícias. 

O nome do programa "A Rita Pereira Não gosta de mim" surgiu numa palhaçada, numa tarde preguiçosa e sem ideias. E apesar de ter começado como um projecto de duas pessoas, transformou-se rapidamente num investimento de paixão para mim. Um objecto de adoração e de agradecimento para a musa, que em conversas e em disparates, despertava em mim uma vontade de criar.

Em jeito de irremediavelmente apaixonado, tentei dar tudo à minha musa. Tentei dar-lhe o mundo. Mas não foi suficiente e perdi-a. Acordo todos os dias a odiar-me, a detestar no que me tornei. A odiar o facto de não saber estar bem nem estar feliz. A detestar queixar-me. 
A nível profissional, as oportunidades aparecem e até agora, tem sido aproveitadas. Mas não sinto nada. De que serve fazer um grande vídeo se a nossa maior crítica não nos vai dizer nada. De que serve ter sucesso se não temos ninguém com quem partilhar. Não serve para nada. 
Toda a minha vida cresci a sonhar ser imortal, a alcançar o mundo. A ser uma espécie de Jesus Cristo do Cinema. Mas rapidamente percebi que legado e imortalidade são mitos. São sonhos que nunca serão alcançados. Trocava todos os vídeos, todos os textos, tudo por uma vida sã e feliz. Por momentos de felicidade.

Porque não estou a conseguir conceber um mundo em que a Rita Pereira não gosta, de facto, de mim.

E começo a arrepender-me do dia em que me apaixonei pela minha musa. 

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