sexta-feira, 3 de abril de 2015

Marcha para o Esquecimento

Não devia ter tentado dar tudo.
Não devia ter acontecido.
Amigos. É tudo uma questão de conveniência.
Uma amizade não é só para os copos, mas até aqui nada de novo. Aos meus, tentei dar tudo. Ouvi, aconselhei, acolhi e ajudei. Prendas, nem tanto, mas sim gestos. Entrega absoluta e divina. Deixar para trás os meus interesses em prol de uma amizade. Quem meu amigo é, ganha um lugar na minha família. Utopia, logicamente.

Eu sei, parece que descobri hoje que o Pai Natal não existe, que a vida não é um mar de rosas e que amigos são amigos, quando dá jeito e lhes apetece.

Se não pareceu, juro que tentei, uma filosofia de ajuda. Uma filosofia de entrega e de confiança. O propósito desta filosofia nasce de uma necessidade um pouco egoísta. De uma necessidade de me transformar a mim próprio num personagem secundário da minha vida. De uma necessidade de me sentir bem e de conseguir viver comigo. De uma necessidade de me odiar um pouco menos.

Nesta minha cegueira, vivi na ilusão de ter a minha própria tropa. A minha guarda de honra. Um grupo de amigos, unidos, fortes e sempre lá. Na minha utopia, essa aliança era real.
De que serve confiar, se não podemos contar nem confiar nos que consideramos mais próximos?
De que serve confiar, se o nosso melhor amigo nos trai constantemente, ou por estar zangado ou por não saber o que diz?
De que serve confiar, se amigos nossos nos vêem cair em desgraçada, nos vêem afastar por estarmos miseráveis e não procuram trazer-nos de volta?
De que serve confiar, se amigos nossos nem nos ligam para saber como estamos, quando sabem que estamos mal?

Fecho-me agora na minha bolha, desiludido com aqueles que ajudei a criar. Desamparado no fundo do poço, desprotegido e dramático, sem ter aqueles que eram os meus comigo. Aqueles que me vêem como um falhado, como um auto renegado e como que só quer chamar à atenção.

E os poucos que se mantêm leais, afasto-os, amarrado à minha estupidez. A ajuda deles seria inquestionável e seria imprescindível. Mas é tarde demais. Não há lugar para mim neste mundo, 

Onde está a legião que me foi prometida?
Onde tocam os trompetes de socorro e de ajuda?
Onde está o amor que conquistei e que me garantiu não ter prazo de validade?

O relógio toca e a data aproxima-se. Está tudo a postos.

Na minha Utopia perdoei uns quando devia ter perdoado outros.
Na minha Utopia prometi não odiar quem me prometeu amar.
Na minha Utopia vi o mundo real e tive medo.
Na minha Utopia fracassada e em colapso só vejo um fim.
Na minha Utopia morrerei cansado de lutar sozinho.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Post Ads (Documentation Required)

Author Info (Documentation Required)