terça-feira, 31 de julho de 2012

Apelo à meia noite,

Já passa da meia noite mas vamos fingir que é meia noite certinha.
Aqui estou eu, num canto escuro do quarto, em frente à minha máquina de escrever, de cabelos e barba branca, tudo oferecido pelo passar dos anos e pela putice da vida, isto como se eu fosse muito velho, mas através do que escrevo gosto de dar a ideia que o sou.
Primeiro, acrescentar dialecto calão e asneirado a um texto dá-me o ar de rebelde, de alguém a quem as regras não se aplicam, de alguém dedicado e decidido, que enfrenta a vida, cospe-lhe na cara, dá-lhe um pontapé nas virilhas e ainda solta uma gargalhada maléfica. Ou apenas de tolo. Passemos à frente.
Segundo, em matéria de café, não sou grande apreciador, mas tenho um primo que o é.
Terceiro, o possível leitor já compreendeu que estou apenas a prosseguir com palavras que por acaso se articulam entre si mas que não dizem nada de jeito. Estrangeirismo - brainstormig.
Quarto, acho que vou começar a inventar uma língua qualquer, um português inspirado em criolo ou noutras línguas. Se alguém me criticar ou atrever-se a dizer que falo mal português, mando-o à merda, pelos motivos acima apresentados, e digo que estou a inovar. Agressivo? Não, decidido.
Quinto e último ponto - O apelo.
É um apelo à bondade dos Homens e das mulheres, se neles ainda existir uma réstia de humanidade e de esperança.
Pronto, já fingi de Santo Papa por uns momentos. Vou me dedicar à Décima Oitava Arte. Dormir.

Falemos de nada

Hoje acordei mais cedo que o dia.
Olhei para o lado e apeteceu-me ler um livro. Tudo mais que lido. Já passaram cerca de 15 anos desde que aprendi a ler pela primeira vez e ainda...esqueci-me do que ia dizer. Não devia ter importância.
Olhei para o céu, mas só vi o tecto. Limpo mas para mim e para os meus padrões de limpeza estava completamente cagado.
Acordar mais cedo que o dia. Que falta de interesse. Só se for para fazer uma surpresa a uma amada - pequeno-almoço, café, lavar os dentes antes do beijo - mas como não tenho nenhuma, não há interesse.
Queria adormecer outra vez. Tive um pesadelo horrível. Matava os meus pais.
Estava a mentir, mas agora o possível leitor acha que sou um psicopata americano, um autêntico louco homicida e isso diverte-me. Vá, chame a policia. Ou então recomende-me uma ida ao psicólogo.
Digo-lhe em primeira mão que não vou. Nem para a prisão nem para um escritório onde serei tratado por um mero negocio, bastante semelhante a coisas estranhas de videntes, mas com melhor aspecto e melhor nome que professor Mamaki.
Mas tive de facto um sonho, não pesadelo.
Sonhava que as minhas avós iniciavam uma corrida de carroças contra um primo meu bastante rico, com ar do senhor da mansão das coelhinhas, mas não digo o nome dele para dar uma de qualquer coisa. Elas iam numa carroça. O meu primo ia num carro desportivo extremamente veloz. Não indico aqui nomes porque o meu conhecimento sobre carros é nulo.
Venceram elas mas despistaram o carro. Foi um desastre porque não tiveram hipótese de saborear a vitória e tiveram que apanhar os ovos que não se partiram. Iam para uma daquelas convenções secretas de avós, que desejam enfardar o mundo com doces e montes de coisas.
Bom, acordei mais cedo que o dia.
O que eu dava para voltar adormecer. Se calhar não dava nada de jeito.
Apetece-me dizer que ganhei a lotaria, para ver se vinham montes de pessoas assaltar-me a casa. Depois podia-me dedicar à minha arte de matar pessoas, e fazia jogos de fome e de gladiadores.
O possível leitor deve achar-me um completo lunático homicida. Acha mal.
Sou só louco.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O mundo dos outros.

Era uma vez um rapaz que vivia no mundo dos outros, deslocado mas despreocupado. Teria criado um mundo para si próprio, se tivesse paciência e não fosse tão preguiçoso e do lema “deixa fazer para amanhã”. Não que tivesse sido sempre assim, mas descaiu-se em demasiada. Criou então, porque dava menos trabalho, uma frágil mas grande bolha de sabão invisível. Não era impenetrável, mas dava-lhe uma sensação de segurança e tranquilidade. Debatia consigo próprio assuntos que não lembravam nem interessavam a ninguém, e idolatrava heróis de bigode. A vida ofereceu-lhe desgosto, amargura, desilusão, mas ele nem reparou, de tal maneira que estava distraído e entretido na sua bolha, com os seus devaneios e imaginações. O mundo dos outros era estranho. Milhares de pessoas iguais entre si. O rapaz bem que ouvia rumores de que havia alguém como ele, mas nunca teve grandes esperanças. O mundo dos outros era um mundo mentiroso de gente mesquinha e pouco inteligente. Mas o rapaz não era sempre preguiçoso, era curioso e muitas vezes determinado, e de vez em quando, abandonava a sua bolha e vagueava sem protecção pelo mundo dos outros, interessado em descobrir novas pessoas e coisas. Era teimoso e valente, mas ia sempre precavido, e ansioso por aventuras. Sentia-se deslocado, mas pelo mundo dos outros tinha um enorme fascínio, estranho e incompreensível. Identificava-se com os seus problemas, mas achava-os patetas. Que mundo sedutor e irritante. Só que um dia, aventurou-se em demasia pelo mundo no qual vivia, mas que não era seu. Foi magoado e ficou de coração despedaçado. E não conseguiu encontrar a sua bolha de sabão, que tanto estimava e que tanto o protegia. Ficou triste e a sofrer. Sem amigos, sem ninguém. Refugiou-se nos sonhos e por momentos esqueceu a preguiça e criou um mundo para se proteger, um mundo bizarro e alucinado, confuso e desorganizado, mas seu. Mas fechou-o a sete chaves, para nunca ser encontrado, e adormeceu a valentia, adormeceu a dedicação, e mergulhou num mar sombrio. Abandonou o mundo dos outros, perdeu-se no seu, perdeu-se nos seus sonhos infindáveis. Não eram estáveis, mas eram mais calmos do que o que o esperava no mundo dos outros. E era ele o supremo governante. Ele gostava dessa ideia.

domingo, 29 de julho de 2012

O Grande Fingidor.

Não se esqueçam que não passo de um recém-adulto, com tiques de adolescência e com tiques de senilidade. Para gente como eu, o hoje deve se transformar no ontem e ser rapidamente esquecido e ultrapassado. Mas enquanto não se transforma, é tempo sofrido. Tudo e nada importam. Sejamos uns falsos deprimentes e atiremo-nos para um mar de revelações por um momento.

Um certo rapaz adorava falar de si próprio, como qualquer pessoa com os cinco alqueires bem medidos, mas apesar desta característica, não se deixem cair em ilusões, não era uma pessoa que se desse facilmente, e a sua sociabilidade tinha limites. Sempre foi muito teatral mas nunca foi dotado nas artes da representação. Nessas, não passava de um palhaço que todos julgavam que era bom actor porque disfarçava os seus maus jeitos com palhaçadas e loucuras, fingindo que era pior do que era. Mas no grande palco que é a vida, ele era um dos melhores actores. Representava bem, para o seu bem e para o dos outros, mesmo quando não parecia. De parvo não tinha nada. Mas por outras palavras, tinha tendências para a mentira compulsiva. Todos temos que tomar decisões. Certas ou erradas. Custam mais, na sua maioria, as decisões correctas. Custo de oportunidade. E embora novo, o rapaz sabia disso e considerava que tinha uma farta e extensa experiência de vida e dos seus sabores e dissabores.De parvo não tinha nada, mas tinha tiques de egocêntrismo.
Chegou o grande dia. Sofrendo de amores, teve que tomar uma decisão. A que lhe custaria mais, e a que menos queria. E foi um fingidor. Enganou para o bem dos outros, e sem eles se aperceberem. Provavelmente, o presumível leitor não está a compreender o significado nem o desenrolar da história, mas detalhes não são necessários para o que há de vir. Limitemos-nos a dizer que foi por amor. Sim, esse sujeito que teima em regular as nossas vidas. Não foi o único motivo, mas digamos que sim. Amor é um tema mais fácil e dá mais leitores do que mortes de familiares, do que desgraças e desacordos dentro de uma família. Continuando. Para se seguir em frente, há que tomar decisões. O rapaz tomou uma. Afastar-se e afastar. Fingiu, mentiu. Algo que tinha prometido nunca fazer. Foi um fingidor. Enganou para o seu próprio bem e para o dos outros. Actuou, representou. E ninguém se apercebeu. O que fez ou deixou de fazer, pouco importa e poucos sabem. Fingiu uma paranóia e foi mais louco do que na realidade era. Mas como disse, o rapaz não era tolo de todo. Fazia-se de tolo quando a ocasião o exigia, e só era verdadeiramente tolo quando estava distraído. Tudo o que fazia tinha um propósito e um fim. Podia não ter muito, mas força de vontade e de decisão tinha. Mesmo quando parecia que não tinha. O possível leitor continua atrapalhado, como seria de esperar. Mas para um contador de histórias, algo que todos somos, é difícil contar uma história de que pouco se sabe mas que se presume muito. No entanto existia um objectivo. O rapaz queria seguir em frente. E sabia como o fazer. Coragem para o fazer? Foi precisa muita. Sofreu? Claro, todos sofremos. Mas foi o melhor através do pior? Foi. Dia após dia, temos que enfrentar um imenso palco, onde actuamos para milhares e com milhares. Temos que actuar conforme a situação. Maus actores? Apenas os menos corajosos.
O que é feito do rapaz, que ninguém sabe bem o que lhe aconteceu e que poucos sabem o que fez. Destruiu-se. Mas renovou-se e continuou. Tomou decisões e deixou de ser um rapaz. Fez uma operação de mudança de sexo. Na realidade tornou-se num homem. Aventureiro? Com limites. Crescera com estabilidade e gostava dela. Precavido e acordado? Sem dúvida. Iludiu muita gente. Não era poeta, mas era fingidor. E tinha mais necessidade de o ser do que os outros.
Moral da história? Devaneios. Uma história mal contada, que quer ser contada, mas que é perigosa de se contar. A simples lição é esta, possível leitor. Devemos escrever do que sabemos e do que vimos. Devemos ter cuidado com o que escrevemos. Devemos escrever para nós próprios, mas não devemos viver o que escrevemos. Esse é o papel dos leitores. Mas em relação ao que sabemos e ao que vimos, sabemos se o imaginarmos. Devemos ser vagos, mas precisos, egocêntricos e pretensiosos. Devemos ser nós próprios mas devemos também ser actores. Devemos ser humanos. Escrever como se soubéssemos tudo, mas pensar como se não soubéssemos nada.

A respeito de velhice.

A velhice bateu à porta dos meus pais. A sua teimosia e casmurrice foi tanta, que eles decidiram chamar a polícia, trancar as portas, fechar as janelas e acabaram por se barricar em casa. Eventualmente desistiram de a combater e abraçaram-na como a inimiga que sabiam que um dia ia chegar. Comecei a notar certas diferenças. De repente, pareceu que a moda nesta vida familiar era usar óculos para ver ao longe e ao perto. Eu não sou muito de modas e não me meti nisso. Mas a minha irmã gosta de dar nas vistas e juntou-se. Vieram os brancos e os cabelos pintados. As dores de costas dia sim, dia sim. As minhas perguntas começaram a ser respondidas com um “hã” ou “não percebi”. Acredito que um dia irão fazer como o meu avô e usar aparelho auditivo, mas desligando-o só para não terem que ouvir ninguém. Vieram as perguntas e as histórias repetidas. Estão se a tornar avós antes de terem netos.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Literatura de cortar os pulsos II: desacatos com inquilinos

O título é como é, faltou criatividade.

Vou para fora uns bons tempos. Mundos distantes, vida boémia, coisas minhas. A vida oferece desgosto e suspense, mas eu cuspo-lhe na cara e abalo para a minha casa de campo, como sempre fiz.
Agora, desapareço. Darei notícias? Penso que não. 
Vou me refugiar em histórias de heróis com bigode, aventura, romance de capa e espada.
 Em matéria de todo o tipo de força, não sou dos mais fortes nem dos mais corajosos, em matéria de inteligência e racionalidade, algumas vezes deixo um pouco a desejar, visto ser um ser humano muito movido por emoções. Por agora acabou. As malas estão feitas.
Sou amante de História, e a mesma repete-se, como que um ciclo. E apesar de estar mais que ciente das traições mais que possíveis e prováveis da vida, o ciclo repetiu-se outra vez.  
Tiraram-me o descanso. Mas descanso precisa-se.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Literatura de cortar os pulsos

Não sou profeta, nem faço pretensões de o ser, mas acredito que até ao final da Humanidade, a comédia irá sempre ser desvalorizada em relação ao drama. Sempre o foi até aqui e será até ao fim. Penso eu de que.
As pessoas preferem mil vezes ler algo deprimente, do que algo hilariante ou pacífico. Preferem ficar chocadas e tristes do que alegres e risonhas. Acho ridículo. Mas as pessoas são masoquistas.
Eu também já escrevi textos corta pulsos. A expressão não é minha mas façamos de conta que é. 
Não sou grande - nem sou sequer amador - escritor. Nem desejo ser. Não tenho vocabulário suficiente. Nem sou o maior dos leitores. Mas a escrita sempre foi um escape do mundo. É o falar sozinho que ninguém considera loucura. Tudo o que escrevi de deprimente, foi num momento de loucura ou obsessão, em que de repente o mundo parecia desabar, em que tudo caia à minha volta, e na realidade era só eu, que não me queria levantar. Quando me apercebia do quão deprimente e triste era, ria-me. Porque acho algo desnecessário à nossa vida. A vida já por si é deprimente, assustadora, mas também hilariante e divertida. E vivemos todos muito pouco. Mas até agora não estou a dizer nada de novo, sou um mero recém-adulto, ainda com tiques de adolescência e com muito da vida para descobrir e aprender. 
Quanto a tudo de deprimente que já escrevi, foram no geral, textos amorosos. Tudo o resto, era eu a "fingir" que estava deprimente. 

Mas escrevo para mim. Para mim e para os milhares de homenzinhos que habitam e controlam a minha cabeça. Portanto posso dizer que tenho uma multidão de seguidores. E o que escrevo para mim, é alucinado, excêntrico, disparatado - sublinho o para mim atrás - e hilariante. 

Agora textos corta pulsos, não, desisto. Se os escrever, estarei a fingir. Detesto. Uma pessoa chega ao seu limite a determinada altura. Não tenho cabeça para isso. Leio alguns, sim, mas escrever, não. A vida é uma puta, mas é uma puta engraçada. Dá para nos divertirmos. E acabamos todos por ser meros peões no meio disto tudo, num jogo qualquer, que parece não ter sentido. 
O tempo, pelo menos para a minha pessoa, isto é, para mim, não para uma pessoa que eu detenha como escrava, porque isso é proibido, sempre passou a uma velocidade tremenda. Um dia, sempre pareceu uma semana. E uma semana sempre pareceu um dia. E aprendi nos últimos tempos, mais do que esperava ter que aprender num tão curto espaço de tempo, que a vida continua, e que não a devemos desperdiçar a escrever sobre o quão deprimentes e miseráveis somos. Temos o nosso mundinho para nos queixarmos e chorarmos. Mas apenas o suficiente, depois é seguir em frente e dar umas boas gargalhadas. 
Acabamos todos por ser uns ingratos, egoístas e deprimentes, em determinado momento da nossa vida. Mas só fica assim muito tempo quem quer.
Eu não quero. 
Portanto, vou escrever sobre heróis, que só o eram, porque usavam bigode, sobre pais que chegavam em cestos às casas dos filhos e pouco ou nada sobre histórias de amor. Isso já há quem escreva aos molhos. 
Resumidamente, vou continuar a escrever para mim, e dizer adeus a escrita corta-pulsos sentida. Fingida, talvez, mas só se começar a ficar desesperado por leitores. 

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Se eu tivesse um irmão

As relações conjugais entre os meus pais brindaram-me com uma irmã e não com um irmão. Não me vou queixar nem dizer que tenho pena, porque é provável que ela se lembre de ler isto, e sei que ela tem desejos homicidas a meu respeito. Mas gostava de ter tido a experiência de ter um irmão mais novo. Gosto de imaginar que se resumiria a isto: ele imploraria por uma camisola minha que teria o nome da minha banda favorita porque era muito fixe e queria mostrar na escola. Como irmão bondoso que sou iria ceder. Mas a camisola teria que ter um “V” de volta. Claro que não voltaria. Como vingança iria roubar-lhe todas as camisolas. Mesmo que não me servissem. E claro que faria uma gargalhada maléfica. O moço iria ter que pedir roupa à mãe.

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