quinta-feira, 2 de abril de 2015

37 dias depois, exausto

A depressão não é um sintoma de fraqueza ou cobardia. É um sintoma de cansaço.
É uma doença, que poucos ou nenhuns percebem. Não por não quererem perceber, mas porque não conseguem conceber que alguém esteja demasiado cansado para viver. Neste mundo de faz de conta, em que todos temos que ser incríveis, todos temos que superar os nossos obstáculos, os cansados são deixados para trás, para abater.
É natural. É a lei do mais fraco.
Existem as clínicas, as consultas. Algo do qual eu nada sei e espero não vir a saber. São algo que supostamente ajuda aqueles que estão em baixo de forma, rendidos à depressão.
A depressão não é fraqueza. É cansaço. 
Nem todos temos o mesmo espírito. Nem todos temos a mesma vontade. Não somos iguais, e isso incomoda os que não conseguem perceber a depressão.

Para a depressão, apresentam como ajuda, como solução a escrita. Eu estou de facto admirado com a quantidade de palavras que já escrevi hoje, que não é normal. Porque nunca estive tão apático do mundo como estou agora. E o meu problema nesta aventura de escrever é que nunca sei ser subtil. Quando escrevo, as pessoas ou não sabem do que escrevo porque é completamente alucinado ou sabem do que falo. Não sei disfarçar, nem omitir detalhes. Sou demasiado directo e pouco privado. É um terrível defeito. Se fosse escrever um livro sobre as minhas escassas aventuras, os que me acompanharam nesta paródia de vida iam-me odiar. 

Só que não há escrita sem Musa. A musa é aquela pessoa que nos inspira, que nos liberta da mente, que nos recorda daquilo que somos capazes, que nos faz ver o mundo de outra forma. É aquela pessoa, que só o olhar, o sorriso, um simples gesto nos faz querer criar. É aquela pessoa que desperta o melhor de nós. É aquela pessoa que nos faz sentir vivos. Há dois anos atrás, eu cometi o erro de deixar que me conquistassem o coração. Cometi o erro de me apaixonar pela minha musa. Cometi o erro de imaginar um futuro. 

Os últimos dois anos foram os mais produtivos da minha curta vida. Quer em material sem nexo nenhum, quer em coisas que até tinham alguma graça e razão de ser, houve mão de alguém que não eu. A musa é tudo. Sem musa não somos nada.
À minha musa devo um talk-show, demasiadas curtas, centenas de textos, vídeos, personagens fictícias. 

O nome do programa "A Rita Pereira Não gosta de mim" surgiu numa palhaçada, numa tarde preguiçosa e sem ideias. E apesar de ter começado como um projecto de duas pessoas, transformou-se rapidamente num investimento de paixão para mim. Um objecto de adoração e de agradecimento para a musa, que em conversas e em disparates, despertava em mim uma vontade de criar.

Em jeito de irremediavelmente apaixonado, tentei dar tudo à minha musa. Tentei dar-lhe o mundo. Mas não foi suficiente e perdi-a. Acordo todos os dias a odiar-me, a detestar no que me tornei. A odiar o facto de não saber estar bem nem estar feliz. A detestar queixar-me. 
A nível profissional, as oportunidades aparecem e até agora, tem sido aproveitadas. Mas não sinto nada. De que serve fazer um grande vídeo se a nossa maior crítica não nos vai dizer nada. De que serve ter sucesso se não temos ninguém com quem partilhar. Não serve para nada. 
Toda a minha vida cresci a sonhar ser imortal, a alcançar o mundo. A ser uma espécie de Jesus Cristo do Cinema. Mas rapidamente percebi que legado e imortalidade são mitos. São sonhos que nunca serão alcançados. Trocava todos os vídeos, todos os textos, tudo por uma vida sã e feliz. Por momentos de felicidade.

Porque não estou a conseguir conceber um mundo em que a Rita Pereira não gosta, de facto, de mim.

E começo a arrepender-me do dia em que me apaixonei pela minha musa. 

1 comentário:

  1. Gosto bastante dos teus textos. Adorava saber escrever assim, mas vou manter-me na minha simplicidade.

    Não és o primeiro homem a passar por isso, nem serás o último. Melhores dias virão. Só tens de aguentar até lá.

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