terça-feira, 27 de outubro de 2015

Não haverá Festejos

Recuso-me a fazer 22 anos.
Recuso-me a reconhecer que envelheci. 
Recuso-me a reconhecer que a minha lenta marcha até ao caixão prossegue. 
Recuso-me.
Tentei não fazer os 21 anos. Tentei mesmo. Felizmente, ou infelizmente, a minha ex-namorada, numa teoria de conspiração muito bem combinada com a minha mãe, organizou-me uma festa de anos surpresa. Confesso que gostei, e que não custou tanto fazer os 21. 
Só que este ano não haverá festejos. 
Não há motivos para festejos.
2015, em grande parte por minha culpa, em outra parte por culpa da minha genética e personalidade esquisita, que herdei e fui moldando ao longo de 21 anos, é um ano que quero esquecer da memória. 
O ponto alto e positivo foram os meus dentes novos, que custaram uma fortuna aos meus pais. Mas esses vieram  porque eu ambiciono ter uma dentadura que valha mais que a minha própria casa. Tragam-me chocolates e coca-cola por favor que assim lá chegarei.
O resto são pontos negativos, mas talvez necessários à construção deste ser esquizofrénico que sonha com normalidade e estabilidade que pelos vistos não conseguirá. 
Entre despedir-me do meu trabalho, dedicar-me exaustivamente a uma depressão - por vontade própria, evidentemente, numa tentativa de chamar à atenção e de me fingir de vítima - , ser internado, afastar amigos bastante próximos e menos próximos, perder membros familiares, ser assaltado duas vezes num espaço de 8 meses, é difícil encontrar algo que me faça dizer no futuro: ah, 2015, que ano. 
E o mais estranho, ou normal, já nem sei, é que depois destes constantes erros, deliberados ou não, depois destes traumas, eu não me reconheço a mim próprio. Não conheço a pessoa em que me tornei e muito menos conheço ou me recordo do que já fui. 
Mas quem sabe, e pode ser que isto seja apenas mais uma verborreia mental e que daqui a 2 meses ou 2 dias pense o contrário. Mudar de ideias é um traço mais do que natural da minha falsa bipolaridade.
Só que a verdade é que com uma licenciatura por acabar, um futuro por desenhar e um vazio na mente e no espírito inexplicável, não consigo parar de sonhar com o fim deste ano. 
Não há motivos para festejos. 
Há motivos para dormir e esquecer que 2015 existiu. 


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