quinta-feira, 5 de abril de 2012

Ovelha

Uma ovelha pastava nos vastos campos verdes de Sesimbra. Muito feliz e descansada, inocente e encantada, indiferente ao que a rodeiava.
Gonçalo, era cantor e poeta. Mas também tinha desenvolvido um gosto intenso por caça. Vestiu a gabardine, e pôs o chapéu preto. De barba feita mas de bigode farfalhudo, revirado nas pontas, com pomada dos sapatos, para ficar escuro e ao mesmo tempo algo brilhante, fez-se aos campos e mirou a ovelha. Entre os arbustos se colocou. Fumou o seu cachimbo à moda antiga e montou a sua carabina. Apontou. A ovelha sentiu que estavam de olho nela. Procurou o futuro assassino. Gonçalo percebeu e compreendeu. Pensou “Se eu fosse assassinado também gostava de ver o meu assassino”. Saiu do meio dos arbustos e exibiu-se. A ovelha assustou-se mas não fugiu. Olhou-o nos olhos. Gonçalo fez pontaria. Os seus olhares cruzaram-se. Corações batiam pesadamente. Nesta altura o leitor deve julgar que vai haver uma chacina sem dó nem piedade, que a ovelha vai sucumbir perante o potente disparo da carabina 31 de Gonçalo. Mas está enganado. Este confronto ainda não está decidido. Pois a ovelha não era burra. Era diferente das outras e de qualquer outra presa que Gonçalo havia encontrado. E não fora para aqueles vastos campos verdes sem estar preparada. Apoiou-se só sobre duas patas enquanto continuava a olhar para Gonçalo, que viu o rumo que a situação estava a levar e não gostou, e abateu a ovelha. E assim ganhou o jantar e um cobertor.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Post Ads (Documentation Required)

Author Info (Documentation Required)