quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Queria ter um porco que soubesse andar de patins

Façamos um pequeno jogo de suposições.
Vamos supor que estamos alterados. Ou pelo menos, que eu estou. O possível leitor certamente está a pensar no perigo que é vir até ao computador, ligar-se às redes sociais e em simultâneo, atacar a escrita, podendo ter devaneios sobre depressões, vida, amores, etc. Aviso desde já, não se preocupe, já comi arroz com carne. Alimentado, posso seguir em frente.
O estado no qual me encontro agora, foi uma simples consequência de três copos de sangria. Não é grave e nada de exacerbado, mas o suficiente para dizer disparates e perder-me com rumores de mim próprio. Se é que isto queira dizer alguma coisa. O possível leitor, deve pensar que sou um fraco no que toca a esta vida universitária de excessos e loucuras. O possível leitor é um nabo. Sou inteligente e poupado. Mais depressa alegre, mais devagar me torno pobre.
E esta pequena alegria, para não lhe chamar bebedeira pois não chega a tanto, bem que podia dar vontade de falar de amores perdidos, erros cometidos, de fazer telefonemas descabidos e comprometedores. Mas não. Dá-me até vontade de relembrar a mais épica pequena alegria que apanhei, no mais que lendário bairro alto, capital da vida boémia lisboeta.
Façamos uma pausa, vou fingir que vou beber café e que quero ter um porco que saiba andar de patins para meu divertimento.

Regressemos da pausa. Imagine-se no bairro alto à espera de um grupo de amigos acompanhado de uma garrafa de vinho. Pronto. Agora imagine que está à espera desse grupo há mais de meia hora. Aborrecido não é? O possível leitor que note que o trato com respeito e dignidade por o tratar por você. Ou simplesmente que o trato assim porque não sei se existe e não tenho grandes confianças consigo. Tudo com o tempo.
Bom, voltando ao bairro alto, imagine agora a garrafa vazia. Parabéns se imaginou, vá à merda se se recusou a imaginar. Peço desculpa a linguagem, mas sou um homem independente, rebelde e recheado de direitos de liberdade de expressão e de mente aberta. Ria-se um pouco. Já chega.
Os amigos chegaram. Finalmente. Vamos supor que traziam consigo cigarros para rir, e que agora estão se todos a rir. Como a vida consegue ser hilariante.
Agora perdeu-se dos amigos.
Encontra um vendedor de óculos de sol, de preferência indiano que só saiba inventar preços mirabolantes ou que só saiba dizer "quer comprá? cinco euro". Agora juntou-se a ele e está a cantar músicas como "I will survive" e ajuda-o a tentar vender óculos.
Diga-lhe adeus, porque a vida continua. A sua sociedade com o indiano acabou. Agora encontrou um restaurante onde está um fadista de cana rachada e vai substitui-lo.
Aplausos. Sinta-se um artista.
Dou-lhe um momento para apreciar.
Acabou.
Agora encontra uma rapariga que lhe pede um cigarro. Fumou uns quantos pelo caminho, mas eram todos implorados ou pedidos. Diz que não tem. Ela pergunta: estás sozinho? O possível leitor responde: perdi os meus amigos. Ela diz: então vem comigo.
Está numa casa com estranhos e com uma rapariga, agradável à vista, mas de pensamentos obtusos. Divirta-se um pouco.
E é isto.
Agora vai comprar um hambúrguer. É assaltado por um moço, boina na tola, dente de ouro, que possivelmente não tinha, mas passa a ter, calças ao fundo do cu, como marca de disponibilidade no mundo da prisão, e de faca no punho. Volte a casa, a noite morreu.

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